Domingo de Ramos

Domingo de Ramos

A reflexão sobre os acontecimentos cuja memória a Igreja põe em relevo neste domingo é profunda e grave para todos nós.

A guiza de introdução, nós, cristãos, não nos limitamos a relembrar um fato histórico, que teria ocorrido num passado longínquo e que não nos afeta. Todo o mistério da Redenção é atuante, é permanente. Acontece todos os dias até o advento do Cristo glorioso seja em nossa vida individual seja na própria história da humanidade.

Inconstante é o coração do homem. Hoje, como outrora os filhos dos hebreus, canta a antífona, lançamos palmas e flores à passagem do Senhor que ressuscitou a Lázaro e fez prodígios. Enfrentamos os fariseus, cujo ódio não suportava o Cristo, nas concentrações, com gritos de vitória. Passados os minutos de euforia, contudo, como muitos daqueles, nos calamos “por causa dos fariseus, não confessavam o Cristo pra não serem expulsos das sinagogas (hoje diríamos da sociedade) pois amaram mais a glória dos homens que a de Deus. (Cf Jo, 12, 42-43). E, somos capazes, da mesma forma que eles, de gritar ”crucifica-o, crucifica-o”. Calamo-nos nos atentados contra a Lei de Deus, nos atentados à vida de nossos irmãos, até mesmo ainda não nascidos, indefesos. Ficamos silenciosos diante dos ataques à Verdade à Justiça. Adoramos o bezerro de ouro em todas as suas formas, inclusive no culto ao corpo em detrimento dos valores humanos.

Na alegria daquele momento em que o Redentor entra em Jerusalém, aclamado pela filha de Sião, como já anunciado pelo profeta -“eis que o teu Rei vem a ti, montado num jumentinho”, quiseram os fariseus, na sua hipocrisia, calar a multidão e os discípulos, esquecidos do que já dissera Habacuc, na resposta de Jesus: “se eles calarem até as pedras gritarão”(Cf. Lc 19,40). E por que? Porque Deus fala aos simples de coração, àqueles que se abrem à sua misericórdia. No seu hino de louvor , Maria cantou: “depôs do trono os poderosos e elevou os humildes”, enchendo de graça os famintos e despedindo os ricos sem nada. Naquele momento, “da boca dos pequeninos e das crianças de peito” emana o louvor para Aquele que ensinara “se não vos fizerdes como esta criança, não entrareis no Reino dos Céus”

A Luz brilhava sobre a terra. Os pagãos de coração reto que se encontravam em Jerusalém para adorar o Deus dos Judeus a viram naquele homem montando num jumentinho. “Queremos ver Jesus” E para eles, como para aqueles que acreditavam, o Pai Celeste o confirma. Para os demais, pareceu um trovão no céu claro. Seus olhos estavam vedados, não viram a glória do Senhor. Isaias já profetizara: “cegou-lhes os olhos e endureceu-lhe o coração para que seus olhos não vejam e seus corações não compreendam.” (Cf. Jo 12,40 – Is. 6, 9).

Para os de coração duro, Cristo ainda faz um apelo. Lembra-lhe que devem caminhar na sua Luz, pois eles também eram queridos de Deus. Mas “eles não o receberam” (Jô. 1, 11). Então Jesus chorou sobra a cidade (Lc 19,410) “Ah, se tu conhecesses ao menos neste dia o que te pode trazer a paz! Mas isto agora está encoberto aos teus olhos”.

Vivamos intensamente a Semana Santa. Não sejamos cristãos que nos limitaremos a comparecer, como expectadores, ao Descendimento da Cruz e a Procissão do Enterro. Procuremos uma conversão sincera para vivermos a intensidade da Paixão que ilumina a Redenção. Que o clarão da luz de Cristo Ressuscitado nos conceda celebrar a Sua Páscoa, ascendendo em cada um de nós o cândido desejo do céu, para que possamos chegar purificados à festa da luz Eterna. Amém!

Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora (MG)