Testemunho da Marina Adamo

Desafios e alegrias de uma família missionária da Canção Nova

São muitos e diversificados os desafios enfrentados pelos missionários do século XXI. Não é fácil ser outro Cristo num mundo tão carente de Deus. Diante de nossos olhos, contemplamos a apostasia, a ausência de fé na vida das pessoas que preferem gastar tempo para conseguir bens materiais e bem-estar, deixando o essencial: Ser de Deus. O Papa João Paulo II disse: “O mandato missionário nos introduziu ao terceiro milênio convidando-nos a manter o entusiasmo próprio dos primeiros cristãos; podemos contar com a força do próprio Espírito de Pentecostes” (Novo Millennio Ineunte).

Vinicius e Marina Adamo
Foto: cancaonova.com

Há 17 anos, o Vinícius e eu fomos morar em Cachoeira Paulista (SP), respondendo a um chamado de Deus para entrarmos no núcleo da comunidade de vida da Canção Nova. Chegamos com o nosso filho Felipe, que na época tinha 8 anos. Lembro-me, como se fosse hoje, da minha alegria, expectativa e entusiasmo para ser missionária e morar na Chácara Santa Cruz, sede da comunidade. Moramos em Cachoeira Paulista (SP) por apenas três anos. Hoje, após 14 anos, já residimos em casas de missão no Brasil e nos Estados Unidos da América.

Nos Estados Unidos, já estamos há quatro anos. Quando chegamos lá, ficamos hospedados por 40 dias na casa dos jovens da missão, num quarto com nossos outros filhos, André e Ana Maria. Tínhamos de colocar o colchão no chão, mas, para nós, isso não era problema, pois a alegria de estarmos entre irmãos era maior que o nosso desconforto. Moramos no Texas até julho de 2007; depois, mudamo-nos para o Estado da Georgia, a convite do arcebispo da arquidiocese de Atlanta.

Depois de alguns meses, comecei a viajar para dar encontros às comunidades brasileiras. A partir daí, assumi a dor de brasileiros que sofrem por ser estrangeiros, pois muitos vivem de foma ilegal no país. Compadecida com cada situação, eu dormia muito pouco quando saia em missão para atender quem necessitava. Jamais recusei orar pelas pessoas, pessoalmente ou por telefone. Eram brasileiros, hispanos e até mesmo, em poucas ocasiões, americanos. Estava sempre aberta para dormir em qualquer casa, em qualquer lugar. Lembro-me de que, uma vez, fui dar um encontro e dormi na sala, ao lado de uma cachorra e seus oito filhotes que tinham nascido há poucos dias. Era a casa de um casal brasileiro que morava num porão.

Durante mais de três anos, o Vinicius e eu dormimos em um colchão que pegamos no lixo. Em dezembro passado, ganhamos o colchão usado de uma amiga brasileira. Todos os movéis e utensílios domésticos que temos, nos foram doados, inclusive os lindos movéis do quarto dos meus filhos. Um foi pego no lixo; o outro, um casal amigo doou quando voltou para o Brasil. Também não tínhamos dinheiro para comprar roupas, mas a providência agia através das nossas amigas brasileiras que trabalhavam como faxineiras na casa das americanas. Elas ganhavam roupas lindas e nos doavam, usadas ou novas.

Eu sei que a pobreza está no coração, não nos bens; mas quando fazemos a experiência do despojamento das coisas, é mais fácil entregar a nossa vida a Deus e confiar que Ele sabe das nossas necessidades.

Especialmente nos Estados Unidos, vivi a experiência marcante de doar-me a quem precisasse, pois a minha vida pertence Àquele de quem sou e ao serviço daqueles a quem Ele me destina.

Apesar de termos morado na rica e poderosa nação, podemos dizer que vivemos a pobreza radical, que é o chamado para aqueles que querem seguir Jesus, pois Ele não foi pobre apenas materialmente, mas despojou-se de si mesmo. Ele não viveu para si, mas para os outros e para os desígnios do Pai. Ele não deu apenas as suas coisas, mas deu-se a si mesmo (Mc 14,22-24).

Agradeço a você, sócio da Canção Nova, que colaborou para que eu vivesse, mais uma vez, a experiência do despojamento, onde temos tudo e não temos nada.

Deus abençoe a sua vida e de toda a sua família.

Marina Adamo

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