É estranho abordar esta realidade, uma vez que tive a graça de estar na Angola apenas por trinta dias. No entanto, foi um marco na minha vida e na compreensão de que Deus respeita profundamente e liberdade do ser humano.
Por que digo isto? É muito comum escutar que Deus abandonou o continente africano quando nos deparamos com a extrema miséria em que vivem nossos irmãos, de forma especial os angolanos, morrendo na sujeira gerada por uma total desestruturação social-econômica-sanitária devido a uma guerra civil débil, motivada por nações interessadas em sugar as riquezas naturais daquele país.
A guerra civil acabou e o povo continua sem dignidade de vida. A média de vida continua sendo de vinte e oito; de cada cinco crianças que nascem, uma chega aos vinte e três anos de idade; a AIDS está propaganda; é um país totalmente desestruturado, miserável amor à vida!
E apesar de toda desolação criada pelo homem, Deus respeita a escolha de cada um que criou tamanha atrocidade. E como dizer que Deus abandona a África quando a vida explode neste lugar humanamente inviável ao ser humano?
O que vi e testemunhei é que Deus lá está com aqueles irmãos que são um show de vida, de alegria, de superação, de transcendência das terríveis dificuldades porque seus olhos estão voltados para o essencial: o Deus-Amor.
No dia a dia o amor era o pão que comíamos, a ternura era água que saciava nossa sede, a alegria era roupa que nos protegia do frio e nos dava resistência para não adoecer.
Eu adoeci gravemente no final da missão. Voltei ao Brasil e imediatamente fui internada com minha amada e corajosa companheira de missão. E a alegria? Não era o que nos protegia? Sim, protegia. Entretanto, a doença foi uma oportunidade privilegiada para aprofundar a verdade de que o mais importante é o amor. Ele não tem fronteiras.
Ser missionária na África, na minha pequena experiência diante daqueles que vivem a plenitude da vida apostólica lá é que tive a graça de conhecer e sentir, é viver na dimensão de que só o amor é capaz de transformar qualquer pessoa. Acreditar sim, porque o amor sempre vence! Isto, aprendi com nossos irmãos angolanos, com nossos irmãos estrangeiros que lá dão a vida: eles não deixam de acreditar na força poderosa do amor que é o próprio Deus.
Simoni N. Camargo
Comunidade Canção Nova
