Professor Felipe Aquino

A importância da escrita como meio de evangelização

A primeira forma civilizada que o homem descobriu para se expressar foi a escrita; os babilônios e egípcios, de três a quatro séculos antes de Cristo, já tinham desenvolvido uma escrita, como os hieróglifos e outros tipos de escrita. Todo o Antigo Testamento foi sendo escrito aos poucos, provavelmente cerca de mil anos antes de Cristo, na Judéia, nas cortes dos reis Davi e Salomão, onde já havia os escribas, especializados em escrever nas peles de animais e papiros antigos.

Era uma dificuldade grande. Os “livros” eram rolos de peles de carneiros e assim guardados em “bibliotecas”. Por volta de 1948 foram descobertos na Palestina, às margens do Mar Morto, onze grutas de Qumran, onde os monges judeus essênios guardaram suas cópias manuscritas da Bíblia, quando fugiram da perseguição do general romano Tito, que destruiu Jerusalém e tomou a Palestina. Ali foi encontrado, por exemplo, o livro inteiro do Profeta Isaías, copiado antes do ano 70. Comparado com a cópia mais antiga que existia, do ano mil, não houve diferenças importantes.

De Jesus Cristo até 1460, todos os documentos eram copiados à mão. Até que um inventor alemão, Johannes Gutenberg (1398 – 1468), com sua invenção do tipo mecânico móvel para impressão começou a Revolução da Imprensa; amplamente considerado o evento mais importante do período moderno. Desse modo surgiu a imprensa, que teve um papel fundamental no desenvolvimento da Renascença, na Reforma protestante e na Revolução Científica; invenção que lançou as bases materiais para a moderna economia, baseada no conhecimento e na disseminação da aprendizagem em massa.

Arquivo

Até então, o livro era um objeto de luxo, caro e difícil de ser encontrado. A imprensa de Gutenberg o tornou popular. Os primeiros cinco livros impressos foram cinco Bíblias com letras grandes, estão no Museu de Frankfurt, na Alemanha. Daí em diante a escrita passou a ser a forma universal de comunicação, antes de surgir o rádio, a televisão e a informática. Para a evangelização a escrita se tornou, sobretudo, o grande meio de comunicação. Já no ano 46 São Paulo começava a escrever as suas Cartas para as comunidades cristãs; em seguida surgiram os Evangelhos e os grandes escritos dos Padres apostólicos e apologistas.

E a escrita continua sendo a forma clássica de evangelizar. Por isso, é preciso aprender a escrever bem; ter um português correto, com boa concordância gramatical, acentuação das palavras, entre outros, porque sem isso a pessoa não consegue se expressar bem por escrito e não se faz entender bem. O Papa Paulo VI dizia que “a mediocridade ofende o Espírito Santo”. O Paráclito nos inspira, mas usa as nossas faculdades intelectivas para agir.

Para aprender a escrever bem, antes de tudo, é preciso ler bastante. Quem não lê não escreve bem e tem dificuldade de se expressar. Lendo, você amplia seu vocabulário, aprende a usar bem as palavras, acerta a acentuação destas e se expressa bem. Fico impressionado quando leio textos dos Padres da Igreja como Santo Agostinho, São Leão Magno, São João Crisóstomo, São Bernardo de Claraval, Santa Teresa de Ávila e, até mesmo, Santa Teresinha do Menino Jesus. Como escreviam bem! Que elegância nas suas palavras e escritos! Isso foi fundamental para a Igreja vencer o mundo após a queda do Império Romano, em 476, nas mãos dos bárbaros.

Os grandes cristãos dos primeiros séculos, como Tertuliano, São Justino, São Clemente de Roma, escreviam seus “Apologeticum” aos imperadores romanos defendendo os cristãos e o Cristianismo. Esta foi uma das maneiras pelas quais a fé católica entrou nos palácios dos imperadores romanos. E Roma se tornou cristã.

Embora tenhamos hoje os meios de comunicação falados, a escrita continua sendo fundamental para a evangelização, pois sem ela a internet não funciona. E é importante dizer que não podemos relaxar na escrita “online” para ganhar tempo. Não podemos maltratar a língua materna, sob pena de prejudicar a escrita e a boa comunicação. A evangelização sofre com isso.

São muitos os recursos de linguagem escrita que podemos usar para a evangelização. Podemos usar a maneira clássica dissertativa de escrever, a mais usada; mas também podemos usar a prosa, a poesia, os contos e outras formas que nos dão recursos ricos de transmissão da fé. Especialmente quando se escreve para crianças e jovens é preciso todo o cuidado com o vocabulário para que entendam o que se quer dizer. Ninguém deve deixar de ter um bom dicionário da língua materna, o famoso “pai dos burros”; e não podemos ter preguiça de consultá-lo. Só assim nós vamos nos aperfeiçoando no conhecimento de nossa língua.

Enfim, a escrita pode, de certa forma, ser comparada com a roupa. A mesma pessoa pode estar maltrapilha ou muito bem vestida. Isso faz uma diferença enorme na sua aparência e apresentação. Por isso a Igreja sempre se esmerou em apresentar os seus documentos em muito boa escrita.

Professor Felipe Aquino
Pregador e escritor católico e apresentador do programa “Escola da Fé” da TVCN