HOMILIA - MISSA DO CLUBE DA EVANGELIZAÇÃO

Atentos, incansáveis e corajosos

Homilia da Santa Missa do Clube da Evangelização presidida no dia 7 de janeiro de 2015.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo narrado por São Marcos.
Capítulo 6, versículos 45-52

Homilia_07012015_padre marcio

Padre Márcio Prado / Foto: Arquivo CN

Neste tempo da Epifania meditamos sobre as manifestações do Senhor; por isso a Igreja nos convida a meditar sobre as três manifestações d’Ele.

A primeira manifestação do Senhor foi narrada, no Evangelho de domingo passado, por intermédio da estrela que guiou os reis magos até o Menino envolto em faixas. Da mesma forma, nesses últimos tempos o Senhor tem se manifestado a nós por meio da estrela. A estrela é a Palavra de Deus. Cristão sem a Palavra de Deus não é cristão. Todos os ritos na Igreja têm base nas Sagradas Escrituras. A Palavra de Deus guia a Igreja. Somos Igreja e precisamos ser guiados pela Palavra. Nos momentos em que nos interrogamos “o que fazer com a minha vida?”, que a Palavra de Deus nos ilumine.

No domingo após o Natal, comemoramos a liturgia da Sagrada Família, e as leituras desse dia são uma orientação para as nossas famílias; elas descrevem como as mulheres devem ser para seus esposos e vice-versa.

A segunda manifestação do Senhor ocorre durante o milagre nas Bodas de Caná, quando Cristo transforma água em vinho.

E por fim, a terceira manifestação de Jesus se dá com o Seu batismo, o qual celebraremos neste domingo. Mas por que Cristo precisava ser batizado? O batismo não é para a remissão dos pecados? Jesus recebeu o batismo por causa de Sua missão; a Igreja nos ensina que não foi a água que purificou Jesus e, sim, Jesus quem purificou a água.

No tempo da manifestação do Senhor, é a Palavra de Deus que nos orienta. No Evangelho de terça-feira, Jesus opera o milagre da multiplicação dos pães, no qual, com um pouco, saciou uma multidão de cerca de cinco mil homens.

Após esse fato, o Senhor Jesus ordena a Seus discípulos que entrem na barca e sigam em frente enquanto Ele se despede da multidão. Em alto-mar, os discípulos veem o Senhor andando sobre as águas e acreditam que Ele seja um fantasma. Alguns capítulos anteriores ao dessa passagem, vemos a explicação de Jesus sobre as sementes, a libertação dos possessos, a cura dos doentes e, mesmo vendo todas as manifestações de Cristo, os discípulos não reconheceram Seu Mestre.

E nós, em nossa caminhada com Jesus, temos visto muitos milagres? Sim. Vemos pessoas que foram curadas de câncer, que foram libertas de vícios e tantas manifestações lindas que o Senhor opera, pois Ele não deixou de se manifestar em nosso meio. No entanto, em um determinado momento de nossa caminhada, também duvidamos que o Senhor esteja conosco. Assim como aconteceu com os discípulos que viram os milagres realizados pelo Senhor e não O reconheceram passado pouco tempo. Quantas vezes o Senhor se manifesta em nosso meio e também desconfiamos d’Ele!

Jesus se manifesta a nós na simplicidade do dia a dia. Quantas coisas pedimos a Deus e Ele não as concedeu a nós, porque diversas vezes não temos o discernimento para lidar com aquilo que pedimos. O Senhor também nos “testa” para saber até onde vai a nossa perseverança. Quantas pessoas que conhecemos foram agraciadas por Deus e, no primeiro momento após terem recebido a graça, simplesmente abandonaram tudo e foram embora. O Senhor quer operar o milagre em nós, e o primeiro milagre é o da perseverança.

Jesus Cristo se manifesta a nós por intermédio do simples. Olhemos para a simplicidade com que Cristo veio ao mundo, na forma de um Menino envolto em faixas. Os pastores e os reis magos conseguiram perceber a presença do Deus Menino por terem o coração sensível. Da mesma forma, peçamos ao Senhor um coração sensível e humilde para sentir a Sua presença entre nós.

Precisamos estar atentos às manifestações do Senhor para que não nos tornemos insensíveis e deixemos de sentir a presença d’Ele em nossa vida. Muitos correm o risco de ver a Cristo somente nas grandes manifestações e não conseguirem enxergá-Lo em meio às pequenas coisas do dia a dia. Rezemos: “Senhor, me ajuda! Que eu seja sensível à Tua graça, àquilo que o Senhor tem me falado. Que eu seja sensível à Tua Palavra e aos sinais que o Senhor me dá por intermédio dela. Acalma meu coração, Senhor, que muitas vezes quer ver coisas grandiosas, fica parado no grande e não consegue perceber as coisas pequenas”.

Devemos olhar para as coisas grandiosas, sim, pois o Senhor continuará se manifestando dessa maneira, mas também devemos ficar atentos às pequenas coisas, que fazem uma diferença enorme em nossa vida. Agradeçamos a Deus pelo ar que respiramos, pelo alimento em nossa mesa. Aprendamos a agradecer a Ele, nas coisas simples, para que não corramos o risco de pensar que Deus não tem falado conosco.

O Santuário do Pai das Misericórdias contempla a parábola do Pai das Misericórdias. E ao olharmos para o mosaico do filho pródigo, coloquemo-nos no lugar deste filho, que perdeu a sensibilidade, pegou tudo, gastou-o, mas voltou. Voltou para casa com as roupas rasgadas, ombros descobertos, e o Pai ali, cobrindo sua nudez. Quantas vezes nós somos assim, andamos errantes, perdemos nossa dignidade de homens, porém, não perdemos a dignidade de filhos de Deus.

O manto do Pai é vermelho e o cíngulo do filho também é vermelho, ou seja, é o que liga um ao outro, este não deixou de ser filho. Uma vez filhos de Deus nunca mais deixaremos de sê-lo. O filho pródigo perdeu a sensibilidade com o tempo, contudo, caiu em si e voltou. Não percamos a sensibilidade! Embora errantes, “rasgados”, não deixamos de ser filhos de Deus, pois o Pai das Misericórdias deseja nos acolher.

Homilia_07012015_mosaico

Mosaico do filho pródigo no Santuário do Pai das Misericórdias / Foto: Arquivo CN

E uma última coisa que o Senhor nos pede, neste ano de 2015, é que sejamos atentos, incansáveis e corajosos. Atentos e sensíveis às manifestações de Deus; incansáveis, porque é preciso perseverar; e corajosos para que sigamos em frente, pois o próprio Jesus nos diz “não tenhais medo, sou Eu!” (Mt 14, 27).

Padre Márcio Prado
Reitor do Santuário do Pai das Misericórdias