causas e tratamentos

Causas e tratamentos

Quais os sintomas de uma pessoa com depressão?
Como definição, a depressão é um termo que significa uma diminuição doentia do estado de ânimo, uma redução de nossa energia, uma “fadiga mental”. Ela é diferente da tristeza normal, é diferente de tudo o que o indivíduo já vivenciou, um vazio sem razão. Ela é acompanhada de falta de prazer (nada mais tem sentido), cansaço, desânimo para realizar tarefas como jamais sentiu. A vida da pessoa estanca, não há esperança. Ocorre isolamento, irritabilidade, sentimento de culpa; sem produtividade, os pensamentos só ficam no passado. No plano corporal, o indivíduo pode sentir dores sem fim, apresentar insônia, comer muito ou perder o apetite. Ele tem a sensação de estar doente e passa a buscar ajuda médica com queixas corporais. Geralmente, do médico a pessoa escuta: “Os exames estão normais, você não tem nada!”. Para o médico uma boa notícia, mas para o paciente uma resposta que o deixa frustrado e com mais dúvidas: “o que tenho?”.

O que causa a depressão?
Esta discussão sempre existiu. Ela nasce com o próprio indivíduo ou é provocada por fatores externos? É uma discussão que não tem fim. O mais importante é entender que somos seres com um corpo biológico e uma mente; e essas duas instâncias passam por experiências sociais únicas, que vão se moldando, modificando-se mutuamente. Nós modificamos o mundo e ele nos modifica. Portanto, a depressão é causada por fatores biológicos, psíquicos e sociais. Alguns fatos durante nossas vidas podem facilitar o aparecimento dela, por exemplo a perda de um ente querido, a separação e doenças clínicas.

Qual a relação entre espiritualidade, saúde e depressão?
A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece que a saúde é “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, não apenas a ausência de doença ou enfermidade”. Portanto, a saúde é mais do que “não estar doente”, mas ter a capacidade de se adaptar ao mundo, ter esperança, sabedoria, criatividade, coragem e espiritualidade. Assim, o bem-estar do espírito também faz parte da “saúde”. Todo ser humano possui uma espiritualidade. Esse termo pode ser definido como um sistema de crenças diversas, as quais dão sentido à vida.

A espiritualidade está enraizada nas pessoas, pois buscamos, diariamente, o transcendente, o significado da vida, seus propósitos; além do observado pelas nossas sensações e percepções. O ser humano busca os mistérios, busca o que não é entendido. E não falamos de religião, pois o indivíduo pode não praticar uma religião específica, mas possui espiritualidade. Assim, não há pessoas sem espiritualidade, mas sim pessoas que não praticam uma religião específica.

De que forma a espiritualidade e a religião influenciam o curso da doença depressiva?
Em geral, como em qualquer doença, a espiritualidade e a prática religiosa, quando presentes, são de grande valia, pois sabemos que indivíduos praticantes lidam melhor com os estresses da vida, recuperam-se mais rapidamente e apresentam menos emoções dolorosas que as pessoas menos religiosas. Observamos que pacientes religiosos apresentam menos depressão. E, quando acometidos por ela, a falta de uma religião pode gerar obstáculos na recuperação.
Assim, a religião oferece, equipa, acolhe o indivíduo na sua resposta às situações quando se encontra face a face com os limites do poder e do controle humano. Como exemplo em situações de traumas, vivências de quase morte. Nestes momentos ficamos diante do nosso extremo desamparo como indivíduos, nossa vulnerabilidade é escancarada diante do mundo, nossa pequenez frente à natureza. Logo, observamos que a religião oferece para estes momentos um bem-estar único.

A falta de religiosidade e espiritualidade pode causar doenças?
Lembrando uma passagem bíblica, na qual os discípulos perguntam a Jesus os motivos ou as causas da cegueira de um homem, mas já com a conclusão que seria por causa de seus pecados, Jesus rebate esta hipótese, afirmando que sua cegueira não é por causa dos pecados, mas para que “o poder de Deus se mostre nele”.E afirma: “Precisamos trabalhar enquanto é dia…”. Ao final, Jesus cura o cego e este adquire a visão, não só de sua percepção visual, mas de uma visão espiritual.

Podemos pedir a Deus a cura de todas nossas doenças?
Não temos o poder de controlar as doenças, mas podemos controlar o tratamento delas. Cada um de nós deve seguir as recomendações médicas, cuidar de aplicar o que foi prescrito. E como está em Eclesiástico, devemos reconhecer a necessidade dos médicos e aceitar os medicamentos, pois Deus deu aos homens a ciência e devemos usá-la. Além de fazer a nossa parte, é preciso compreender que não somos eternos. Somos finitos. Estamos de passagem por esta terra, onde “precisamos trabalhar enquanto é dia”.

Somos seres com uma jornada, do nascimento à morte. Neste percurso, estamos suscetíveis às doenças, acidentes e todo tipo de fatalidades. Nesta jornada, podemos sofrer de depressão, doença psiquiátrica que apresenta sintomas, entre eles a sensação de culpa, de vazio, falta de prazer, tristeza imotivada; sensações que traduzem a falta, o nada. E não é possível preencher este vazio com a religião, pois ela não é uma “complementação” de nossos vazios. “Minha Igreja não é Pronto Socorro!”, disse um padre, ou seja, ele não queria que as pessoas recorressem à sua ajuda somente em momentos de desespero, mas que buscassem a religião como algo saudável para suas vidas.

Vale repetir a importância da religião: ela não se presta para nos inculcar culpas; não é para nos amedrontar com os demônios e suas perseguições. A religião e a espiritualidade fazem parte do humano. Precisamos despertar nossa espiritualidade com a prática religiosa. Precisamos treinar nossos ouvidos para ouvir a Deus e não buscar ajuda somente nos momentos de desamparo, sofrimentos, tristezas e perdas.

Como é feito o tratamento da depressão?
A depressão pode e deve ser tratada. Em geral, as pessoas comentam que “se curaram sozinhas”. Esta prática é perigosa, pois há riscos de cronicidade. Além disso, ela, em si, gera meses de sofrimento, perda de dias de trabalho, dor e consequências nefastas para a vida da própria pessoa e seus familiares. A ajuda médica auxilia na recuperação, alivia a dor psíquica e busca o pronto estabelecimento na vida da pessoa.

Para aqueles teimosos, que relutam em buscar tratamentos médicos, vale sempre lembrar: devemos amar o nosso próximo e, por este amor, nos cuidar. Quando eu cuido de mim, cuido de quem me ama.

Quando procurar ajuda?
É importante diferenciar depressão de outros acontecimentos normais em nossas vidas. O primeiro é a tristeza normal. Todo ser humano vai sofrer algum contratempo e dor no percurso de sua vida. Não há como viver sem romper essa barreira da tranquilidade, sem sofrer alguma dor. Portanto, sentir tristeza é normal.

Outra questão é o luto, ou seja, a dor, a tristeza de uma perda. O tempo de luto varia para cada pessoa, mas, geralmente, nos recuperamos e entendemos que a vida precisa seguir, mesmo na ausência do ente querido. No processo de luto, a pessoa recupera os ensinamentos, as experiências com a pessoa amada e com estes seguirá seu próprio caminho. Fica a saudade, mas não fica a tristeza.

A desmoralização é outro conceito importante. Ela é definida como a perda da força moral, da sensação de competência, da autoconfiança, e da coragem. Estes sintomas também estão presentes na depressão; porém, nela, encontramos uma intensidade maior, pois está associada à sensação de perda de prazer. Como exemplo de desmoralização, é o sentimento após a perda de um emprego e o desemprego.

Portanto, devemos diferenciar os sintomas humanos normais, reativos e naturais à vida (tristeza, luto e desmoralização), da depressão.

Também em situações médicas, como após receber um diagnóstico grave, como um câncer, algumas pessoas reagem com ansiedade e tristeza, geralmente associado com irritabilidade e negação. Neste período de adaptação, o indivíduo sofre, fica angustiado, reluta em aceitar, nega o problema, mas logo encontra uma saída e aceita seu novo desafio. Este estado é chamado de ajustamento, mas, em geral, o indivíduo absorve a nova condição e, assim como o luto, segue adiante.

Assim, a depressão “doe” mais que estes fenômenos, dura mais e afeta, de forma mais incisiva, aspectos de nossa vida diária (família, trabalho, sono e relacionamentos próximos).

Como tratar a depressão?
Primeiro: Não tenha vergonha de ter depressão! Ela não é castigo, falta de fé nem falta de Deus. Depressão é uma doença como todas as outras; como diabetes, hipertensão arterial, epilepsia. Depressão é uma anormalidade do funcionamento físico, psíquico e cerebral. Esta anormalidade se apresenta com alterações emocionais que não podemos controlar. Assim como uma gastrite causa dor na boca do estômago, a depressão se manifesta por meio de dores emocionais. Cada doença tem sua forma de aparecer, de se manifestar.

Segundo: Procure um médico de confiança. Se não o tiver, procure ajuda em sua comunidade, peça referências. O psiquiatra é o especialista, dentro da medicina, que irá rever, investigar, questionar e tratar a depressão.

Terceiro: Lembre-se que, em qualquer tratamento médico, o importante é o diagnóstico e as metas a serem atingidas. O médico pode ser trocado, mas não o objetivo: a recuperação. Se houver divergências de diagnóstico, reveja, converse, peça relatórios do médico anterior. Mais vale uma discussão do que um tratamento mal feito.

O tratamento pode ser realizado com intervenções psicoterápicas (tratamento pela palavra); farmacoterápicas (com remédios) e psicossociais (orientações sobre a postura do indivíduo em seu meio social). E vale lembrar que tomar remédios não é o fim do mundo. O importante é a recuperação, o restabelecimento da saúde como um todo.

O tratamento pela palavra não é melhor que o medicamento e vice-versa; o melhor é tratar a pessoa, as particularidades de cada indivíduo que sofre de uma doença específica.O tratamento, mesmo com todas as dificuldades, é sempre melhor que o não tratamento.

Luís Arenales
Médico Psiquiatra – CRM 56.489

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