PADRE JOÃO MARCOS POLAK

Sou muito feliz e realizado como padre

No mês da vocações, padre João Marcos Polak partilha sobre seu chamado à vocação sacerdotal

Afinal, o que é vocação?

Neste mês vocacional, somos chamados a refletir com mais profundidade sobre “vocação”, palavra que vem do latim vocare, que significa “chamar”. Portanto, vocação, mais, que uma inclinação ou habilidade para exercer uma determinada carreira ou profissão, é um chamado de Deus.

Vocação é o encontro de duas realidades: de um Deus que chama e da pessoa que responde a esse chamado.

Poderíamos falar de várias realidades de vocação: vocação à existência, vocação humana e cristã, mas gostaríamos de focar na realidade da vocação religiosa e profissional.

A vocação religiosa é um chamado de Deus assumido por homens e mulheres que têm um desejo de testemunhar Cristo e viver uma vida mais radical com total disponibilidade de servir a Igreja, os irmãos e irmãs.

A vocação profissional é formada por um conjunto de aptidões naturais, que contribui com a escolha pessoal para exercer um trabalho. O que poderíamos diferenciar do profissional para o vocacional é que, no profissional, eu “faço”; no vocacional, eu “vivo”. Vocação é entrega total, vinte quatro horas por dia; enquanto que, no profissional, além de poder trocar de profissão, esta é exercida somente algumas horas do dia.

Deus me chamou no momento em que eu menos imaginava

Minha história, assim como a de muitos, foi construída entre escolha, fidelidade, amor, fé, alegria, superação e graça de Deus.

Nasci em uma família de nove filhos. Sou o oitavo filho, quatro homens e cinco mulheres. Uma família simples. Trabalhávamos na roça, no interior do Paraná, sempre com as dificuldades próprias do trabalho da agricultura, como serviço braçal, dificuldades financeiras, dificuldade com o frio do Paraná. Também a questão do meu pai, que bebia; e isso trazia consequências para o convívio familiar. Graças a Deus, depois de uma experiência num grupo de oração, ele deixou a bebida e o cigarro e se transformou num grande homem de Deus, assim como minha mãe e meus irmãos.

Cresci gostando de trabalhar, de jogar bola e nadar no rio. Pensava em crescer na vida, construir uma família, ter três filhos, fazer uma faculdade. Aí, vieram namoros, vida errada, bebidas, festas, trabalho, dinheiro e residência em outro Estado. Assim, experimentei uma tal “liberdade”, “felicidade”, perdição. Mas, mesmo diante dessas festas, da “liberdade”, do dinheiro e namoro, eu sentia que faltava algo, que alguma coisa me incomodava. Parecia que eu precisava fazer algo pelas pessoas, para construir um mundo melhor. Portanto, não era realizado, não tinha ainda encontrado o sentido para a vida.

Mas que sentido era esse? Que felicidade era essa que tanto buscava? Será que existe felicidade e realização? Será que é possível encontrar o sentido para a vida?

Sou muito feliz e realizado como padre

Foto: Arquivo /cancaonova.com

Deus sempre bateu à porta do meu coração. Desde pequeno, quando precisei ser batizado às pressas por causa de uma pneumonia; no carinho dos meus pais e irmãos, que não mediram esforços para dar o melhor para mim, mesmo em meio às dificuldades; os amigos que tive… Enfim, tantas graças, que não poderei relatar aqui! Mesmo assim, vivia reclamando, querendo ter mais coisas, invejando a família dos outros. Deus me amava no simples, na pobreza, nas brincadeiras com os irmãos, na visita a casa dos avós, no andar a cavalo, de carroça, de bicicleta. Na festa do dia que íamos matar o porco para deixar conservado na lata de banha, pois não tínhamos geladeira.

Quanta coisa boa, quanta bênção de Deus! Mas quando o coração está fechado, podem acontecer maravilhas, milagres e prodígios, mas nada muda. Corremos o risco de parar nas dificuldades e não percebermos as bênçãos de Deus.

Já parou para pensar que você tem bem mais coisas para agradecer do que pedir ou reclamar? O fato de ter acordado hoje é um motivo para louvar a Deus, por poder ler esse livro agora, entre tantas coisas. No entanto, Deus não desiste dos corações fechados, Ele é capaz de loucura por mim e por você.

Deus foi capaz de entrar em uma danceteria para me resgatar. Era a noite do vinho, estávamos bebendo, dançando e nos “divertindo”. De repente, surgiu um questionamento no meu coração: “Será que é preciso tudo isso para ser feliz? Será que o jovem precisa de bebida, festa, cigarros e drogas para entrar na “onda”, para ser aceito no grupo ou contar vantagens no dia seguinte? Será que não tem como ser jovem sem essa mentalidade mundana que está aí? Era por volta de 2h da manhã que saí daquele local. Ao entrar no carro, comecei a chorar, não sabia o que estava acontecendo, mas fui chorando até em casa. Deixei amigos no local, pois algo novo começava naquele dia, e nem mesmo eu estava entendendo o que era.

Cheguei em casa, ajoelhei-me em frente ao espelho e comecei a falar com Deus. João Marcos, o que você está fazendo da sua vida? Olhe para você, tem tudo e não tem nada. Que caminho você está buscando? Já teve uma chance de experimentar o amor de Deus na sua adolescência, no grupo de oração, mas não deu atenção. No momento, não entendia o que estava acontecendo. Sentia Deus falando comigo: “Volte, filho! Estou lhe esperando”. Mas isso ainda era apenas um sentimento. Esse Deus apaixonado por nós, que nos tomou por inteiro no dia do nosso batismo, estava novamente me incomodado, estava me conduzindo para Ele. Era mais uma chance que o Senhor estava me dando.

Duas semanas depois, comecei a participar do grupo de oração. Recebi o convite para um encontro de jovens no fim de semana. Fui a esse encontro mais pelo convite, e porque já estava procurando algo; no entanto, não me sentia muito motivado. Na verdade, meio desconfiado. Mesmo assim, quis fazer a experiência, embora tivesse muitos questionamentos. Fiquei sentado na parte de trás do salão, não tinha disposição para participar das atividades, não sentia nada. Eu questionava o pregador, achava que tudo aquilo era para pessoas velhas e que muitas coisas não aconteciam como eles falavam. Achava que os testemunhos eram arrumados e as pregações feitas com técnicas para tocar o coração das pessoas. Eu sou racional e não me deixava levar por essas “baboseiras”. Como é difícil Deus entrar num coração fechado! Mas quando Ele quer, nada segura o Seu poder! Ninguém pode impedi-Lo de agir na vida de uma pessoa.

Foi tremendo, poderoso, espetacular, verdadeiramente a Shekiná de Deus veio até mim! E quando ela chegou, não tive como resistir. A partir do batismo no Espírito, eu levantei uma outra pessoa, ajoelhei-me de um jeito e levantei de outro. Tudo era novo: a oração, o amor pela Palavra, pela Igreja e pelos irmãos. Havia em mim um desejo profundo de santidade, de falar de Deus, evangelizar sem medo ou vergonha. Tomei consciência, naquele dia, de que Deus acredita em mim. Ele insistiu muito comigo, até naquele momento, para que eu descobrisse o sentido da vida. Quanta alegria, quanta satisfação interior! Realização que não tinha encontrado em nenhum lugar. Nem a bebida, nem o cigarro, nem as mulheres, futebol, amigos preencheram meu coração como Deus preencheu naquele dia. Por isso, posso dizer: Encontrei Deus, encontrei aquilo que faltava, encontrei o Tudo, encontrei um Amigo, meu Amigo.

Começou um tempo novo

O primeiro passo foi a reconciliação com Deus por meio da confissão; depois, com a família. Como foi difícil dizer, pela primeira vez, para meu pai e minha mãe, que eu os amava! Mas como foi importante esse primeiro passo! Deus foi transformando e me convertendo dia após dia. A cada encontro, a cada dia no grupo de oração no qual estava à frente, no chamado de Deus para entregar toda minha vida em uma comunidade missionária como a Canção Nova. Quanto amor de Deus, quantas lágrimas, quantas renúncias! Deixar emprego já estruturado e com um belo futuro pela frente, deixar família, namorada, carro, amigos, minha terra, meu povo, minha comunidade, por causa de um chamado que começou no coração de Deus, que foi se concretizando aos poucos, mas principalmente foi retomado dentro de uma danceteria. Só Deus mesmo para fazer isso comigo e colocar-me onde estou hoje.

Depois de um tempo de discernimento junto aos formadores, percebi que Deus me chamava ao sacerdócio. Foi desafiador aceitar esse chamado, pois pensava que não daria conta dos estudos e das obrigações próprias do ministério. Mas aprendi que Deus chama e capacita, escolhe e direciona, envia e vai à frente. Entrei para a Comunidade Canção Nova, em 2005, e fui ordenado padre no dia 4 de agosto de 2013. Só posso dizer: obrigado, Senhor! Obrigado por acreditar em mim!

Sou muito feliz e realizado como padre servindo no carisma Canção Nova. Ser padre, ser Canção Nova, ser de Deus foi o presente, o algo a mais que Ele fez na minha vida. Só tenho a agradecer tanto amor e tanta graça. Sou amado por Ele, apaixonado por Ele, sou feliz servindo a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo. Como não se alegrar com testemunhos de conversões, curas, milagres, confissões com profundos arrependimentos e desejo de mudança de vida? Como não se alegrar com a vida fraterna na comunidade, de saber que não estou sozinho, que posso contar com os irmãos e irmãs Canção Nova? Como não se alegrar por ser escolhido e por ser de Deus?

Eu não perdi minha juventude, pois Deus não nos tira nada; ao contrário, Ele nos dá tudo e muito mais. Mas o meu ser jovem ganhou novo sentido. O viver a castidade, santidade, tudo tem sentido. No dia do meu encontro com Cristo, começou uma amizade com o Espírito Santo que permanece até hoje. Já tentei me desagarrar d’Ele, mas Ele não me deixa em paz. Gosto de dizer que a experiência da sala do Pentecostes permanece até hoje. Uma vez que você entra nessa sala e faz a experiência, nunca mais quer sair, porque é uma experiência de amor e misericórdia. Às vezes, tentamos nos afastar, mas o Espírito gruda em nós de um jeito que nos puxa de volta para Ele.

A você, sócio evangelizador, só posso dizer “muito obrigado” por nos ajudar. Se não fosse você e a sua contribuição mensal, com suas lutas e, muitas vezes, humilhações por fazer parte dessa família, eu não seria ordenado e a Canção Nova não conseguiria levar a evangelização a tantas pessoas. Você faz parte dessa obra. Deus abençoe sua generosidade.

Padre João Marcos Polak
Comunidade Canção Nova

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