Posso ser sincero?

Posso ser sincero?

Nos últimos tempos, muitas coisas aconteceram que me encheram a alma de agonia. Com tantos fatos que se sucederam, posso dizer que a tristeza deixou meu Cristo meio obscuro. Por descuido culposo, na mente e no coração, passei a não ver e não ouvir nada e ninguém. Perdi a prontidão. Minha fé ficou adormecida. Minha vida interior ficou reduzida a fazer coisas.

Na minha alma, um vazio de Deus. Cedi ao desânimo. A falta de vibração me faz procurar o mais fácil, o agradável, o caminho mais curto, isto é, viver com uma imagem de satisfação. Para mim passou o entusiasmo… Mas vejo que não tenho que trabalhar por entusiasmo, mas por amor, com consciência do dever, que é abnegação. Posso carecer de entusiasmo e ter tudo pelo amor de Deus. Mas quanto isso me custa!

Em dezembro de 2004, não devíamos nada a ninguém. Este ano, para passarmos sem dívidas, nossa campanha de dezembro será árdua. Estamos vivendo a conseqüência de um ano inteiro de muita dificuldade. Já temos como previsão para dezembro deste ano, mais ou menos 14 milhões de reais, sem sequer ter tido o gosto de investir um centavo.

Só pagamos as dívidas para a nossa manutenção. E você agora pode estar pensando: “O que eu tenho a ver com isso?” Posso ser sincero? Você tem tudo a ver, pois você é da família. Chegou a sua hora! Amar é dar a vida.

Saborear as delícias de Deus nos custa! Não consigo viver com “cara de paisagem”. Vontade de fazer eu não tenho. Prossigo o meu plano de vida, não porque me agrade, mas porque devo fazê-lo por amor, mesmo na aridez. Trabalhar na aridez é tirar água de um poço, balde a balde, e não ver resultado. Mas não quero me deixar levar pelo sentimento do desânimo, pois deixar-me ser levado pelo negativo é o que poderia me acontecer.

Porém, devo unir forças com os que merecem. Estar ombro a ombro e deixar a inteligência ser iluminada e ajudada pela fé. A Palavra que senti como inspiração de Deus foi a do Livro dos Números: “O Senhor disse a Moisés: ‘Envia homens para explorar a terra de Canaã, que eu hei de dar aos filhos de Israel’. Enviando-os a explorar a terra de Canaã, Moisés disse-lhes: ‘Ide… examinai que terra é essa… Coragem! E trazei-nos dos frutos da terra.’ Partiram, pois, e exploraram a terra desde o deserto de Sin até o vale de Escol. Tendo voltado os exploradores, narraram a Moisés: ‘Realmente é uma terra que mana leite e mel, como os frutos que trazemos. Mas os habitantes dessa terra são robustos, suas cidades grandes e bem muradas’. Caleb fez calar o povo que começava a murmurar contra Moisés, e disse: ‘Vamos e apoderemo-nos da terra, porque podemos conquista-la’. Mas os outros, que tinham ido com ele, diziam: ‘Não somos capazes de atacar esse povo; é mais forte do que nós'(cf Nm 13,1-31).

Nessa passagem pude ver o grande erro: Contar só com as próprias forças para vencer! Ver o poderio dos outros mais fortes e recuar… É muito complicado para mim, ficar passivo diante do que Deus me pede: Conquistar a terra, levar em frente a minha missão. A Luzia, lendo um livro no avião, trouxe-me a resposta, que descrevo aqui: Reino de Deus: “Uma das coisas que mais me impressiona em Deus é que houve um dia em que Ele deixou de criar e entrou em descanso, o Shabat. A expressão usada no Gênesis, ‘viu Deus que tudo era muito bom’, deve ser traduzida por ‘viu Deus que era suficiente’. Isso é extraordinário.

Um Deus com possibilidades ilimitadas, em determinado momento, dá-se por satisfeito e decide parar de criar. Enquanto no mundo há gente para quem tudo não é o bastante, Deus me diz ‘que isso não é tudo, mas já basta’.

Um grande mistério dessa narrativa do Gênesis é que, quando Deus pára de criar, Ele não pára de trabalhar. Jesus disse que seu Pai trabalha até hoje, e Ele, Jesus, trabalha também. Deus parou de criar, mas não parou de trabalhar. Deus parou de criar e entrou no shabat, isto é, entrou no descanso. Entrar no shabat é começar a desfrutar da criação, e isso é uma espécie de trabalho, um descanso ativo, diferente da passividade, omissão ou comodidade. Na verdade, Deus parou de somar coisas à criação e passou a desfrutar das coisas criadas.

Quantas espécies de peixe existem? Francamente, não sei e duvido que alguém saiba. Mas é fato que poderia existir o dobro. Ou o triplo. Deus poderia continuar criando até o infinito. Somando, somando. Acumulando, acumulando. Mas não foi isto o que fez. Em vez de fazer existir sempre mais, optou por colocar limites ao que poderia vir a existir, para que pudesse desfrutar o que já existia. Eis aí o segredo. Você tem que saber a hora de parar. Você tem que saber o quanto basta. Você tem que se dar por satisfeito e interromper a correria na direção de acumular.

Você tem que aprender a desfrutar o que tem, em vez de correr atrás de mais e mais. É mais importante desejar o que tem do que ter o que deseja. Por isso, Comte-Spnville adverte que ‘Não basta ter tudo para ser feliz, para sê-lo de fato. O que nos falta para ser feliz, quando temos tudo para ser e não somos? Falta-nos a sabedoria’. A inserção no Reino de Deus redimensiona a relação com o dinheiro e as riquezas, e abre as portas para a plena liberdade, que ultrapassa necessidades e circunstâncias.

Somente quando vivemos no Reino de Deus estamos livres da ansiedade de ter, possuir e acumular. Em outras palavras, quando entramos no Reino de Deus, entramos também no Shabat, o descanso ativo, no qual o que temos pode não ser tudo, mas sempre será o suficiente”. Descansar é começar a desfrutar da criação, é trabalhar, é ser ativo não passivo, inerte, acomodado. Na verdade, Deus parou de somar coisas à criação e passou a desfrutar das coisas criadas.

Corremos o risco de criar, criar, somar, somar e não usufruir. Deus colocou limites ao que poderia vir a existir, para poder desfrutar o que já existia. Este é o grande segredo. Tenho que saber a hora de parar. Tenho que saber o que basta. Tenho que me dar por satisfeito e interromper a correria na direção de acumular. Tenho que ter sabedoria para saber parar. Ter a visão do todo, e deixar que outros façam. Paulo viu que a Espanha era o grande celeiro da evangelização, mas não foi ele quem foi lá. Isto é viver na sabedoria
de Deus!

“Continuo a pedir socorro”.

Wellington Silva Jardim,
Administrador da Fundação João Paulo II
Canção Nova

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